sábado, 4 de agosto de 2007

AO MESTRE DA LUZ

No século dezenove, um homem do Líbano escreve um belíssimo poema ao Grande Mestre.:., que mais parece uma prece de louvor, amor e remissão as fraquezas humanas.

Um poema de extrema sensibilidade e muito atual. O autor com muita leveza, nos transporta nas asas de eras passadas em um mergulho profundo das fraquezas humanas, que nos causa espanto, horror e vergonha.

Em pleno século 21, ainda existem pessoas que negam a existência de um ser que encarnou e deu a sua vida por nós em total dedicação de amor.

Estamos ainda imbuidos no preconceito, orgulho, vaidade, arrogância, covardia, omissão de atos e palavras e egoísmo mesquinho. Ao mesmo tempo, nos sentimos amados e confortados pela beleza e paixão de Jesus e Maria de Madalena.

Leia e reflita, substiua os nomes de pessoas e lugares pelos que você conhece, terá uma surpresa.
Mestre, Mestre Cantor

Mestre das palavras não pronunciadas,

Sete vezes nasci e sete vezes morri

Desde Tua rápida visita e nosso breve acolhimento.

E vê, mais uma vez eu vivo.

Lembrando um dia e uma noite entre as colinas,

Quando tua preamar nos levantou.

Desde então, muitas terras e muitos mares cruzei,

E onde quer que me levassem a sela ou a vela,

Teu nome era uma prece ou um argumento.

Os homens abençoavam-Te ou amaldiçoavam-Te;

A maldição: um protesto contra o fracasso;

A bênção: o hino do caçador

Que volta das montanhas

Com provisões para sua companheira.

Teus amigos ainda estão conosco

Para nosso consolo e nosso apoio.

E também Teus inimigos,

Para nossa fortaleza e nossa segurança.

Tua mãe está conosco;

Tenho observado o brilho de sua face

No semblante de todas as mães;

Sua mão embala berços com meiguice,

Sua mão dobra mortalhas com ternura.

E Maria Madalena está também em nosso meio,

Ela que bebeu o vinagre da vida, e depois o vinho.

E judas, o homem de dor e mesquinhas ambições.

Ele também anda pela terra;

Mesmo agora preia-se a si mesmo,

Quando sua fome não encontra outra presa,

E procura seu Eu maior na sua autodestruição.
E João, aquele cuja juventude amava a beleza, está aqui,

E canta, embora no meio da indiferença.

E Simão Pedro, o impetuoso,

Que te negou para que pudesse viver mais tempo por Ti,

Ele também se senta junto ao nosso fogo.

E pode negar-Te outra vez

Antes que chegue a aurora de outro dia.

Entretanto, deixar-se-ia crucificar por Tua causa,

Julgando-se indigno dessa honra.

E Caifás e Anás ainda vivem seus dias

E julgam o culpado e o inocente.

Dormem em seus leitos de macias penas,

Enquanto Aquele que condeneram é chicoteado.

E a mulher apanhada em adultério,

Ela também anda pelas ruas de nossas cidades.

Faminta por um pão ainda não cozido,

E vive sozinha numa casa vazia.

E Pôncio Pilatos está também aqui;

Mantem-se apavorado diante de Ti

e ainda Te interroga,

Mas não ousa arriscar sua posição

Ou desafiar uma raça estranha;

E continua a lavar as mãos.

Mesmo agora, Jerusalém segura a bacia e Roma, a jarra.

E entre as duas,

Um milhar de milhar de mãos seriam lavadas até a brancura.
Mestre, Mestre Poeta,

Mestre das palavras cantadas e faladas,

Construiram templos para abrigar Teu nome;

E em cada altura elevaram a Tua cruz,

Um sinal e um símbolo a guiaar seus passos para a frente,

Mas não para aTua alegria.

Tua alegria é um monte além de sua visão,

E não lhes dá conforto.

Honrariam, antes, o homem igual a eles mesmos,

Num deus que teria a mesma bondade,

E o mesmo amor e a mesma misericórdia que eles próprios?

Honram não o homem, o homem vivo,

O primeiro que abriu Seus olhos e fitou o sol

Com pálpebras firmes,

Não, eles não O conhecem, e não querem ser como Ele.

Preferem ser desconhecidos,

Caminhando na procissão dos desconhecidos.

Preferem suportar a tristeza, a sua tristeza,

E não encontrariam consolo em Tua alegria.

Seus corações doloridos não procuram consoloção

Em Tuas palavras e na canção nelas contida;

E sua dor, silenciosa e informe,

Torna-os criaturas solitárias e isoladas.

Embora ligados pelo parentesco e pela espécie,

Vivem no temor e sem se acamaradarem;

Contudo, não gostariam de ficar a sós

E curvar-se para o leste quando sopra o vento do oeste.

Chamam-te rei,

E quereriam estar em tua côrte.

Proclam-Te Messias,

E quereriam ser ungidos com o santo óleo.

O sim, viveriam de Tua vida.

Mestre, Mestre Cantor,

Tuas lágrimas eram como as chuvas de maio,

E Teu riso, como as vagas do mar encapelado.

Quando falavas,

Tuas palavras eram o sussurro distante

Dos seus lábios abrasados pelo fogo;

Rias pela medula de seus ossos

Que ainda não estavam prontos para o riso;

E choravas pelos seus olhos, que ainda estavam secos.

Tua voz era um pai

Para seus pensamentos e sua compreensão;

Tua voz era uma mãe

Para suas palavras e seu alento.

Sete vezes nasci e sete vezes morri;

E agora vivo de novo e Te contemplo,

O lutador dos lutadores,

O peta dos poetas,

Rei acima de todos os reis,

Um homem seminu com seus companheiros de estrada.

Todos os dias, o bispo cruva a cabeça

Quando pronuncia Teu nome;

E todos os dias, os mendigos dizem:

"Pelo amor de Jesus,

Dai-nos uma moeda para comprar o pão."

Apelamos uns aos outros,
Mas na verdade é para Ti que apelamos,

Como a uma preamar

Na primavera de nossa necessidade e de nosso desejo,

E como uma baixa-mar, quando chega nosso outono.

Alto ou baixo, Teu nome está em nossos lábios,

Mestre da infinita compaixão.

Mestre, Mestre de nossas horas solitárias,

Aqui e ali, entre o berço e o esquife,

Encontro teus irmãos silenciosos,

Os homens livres, inabaláveis,

Filhos de Tua terra e de Teu espaço.

Eles são como os pássaros do céu,

E como os lírios da campina.

Vivem Tua vida e pensam Teus pensamentos,

E ecoam Tua canção.

Mas estão de mãos vazias

E não são crucificados com a grande crucificação.

E nisto está sua dor.

O mundo crucifica-os todos os dias,

Mas somente nas pequeninas coisas.

O céu não fica abalado,

E os túmulos não expulsam seus mortos.

São crucificados e não há ninguém

Para assistir a sua agonia;

Volvem a face para a direita e para a esquerda

E não encontram ninguém que lhes prometa

Um lugar no Seu reino.

Entretanto, desejariam ser crucificados

Outra vez e mais outra vez,

Para que Teu Deus seja o seu Deus

E Teu Pai seja o seu Pai.

Mestre, Mestre Amante,

A princesa espera Tua chegada em sua alcova perfumada,

E a mulher só aparentemente casada espera-Te em sua prisão;

A prostituta que procura pão nas ruas de sua vergonha,

E, em seu claustro, a monja que não tem marido;

E também a mulher sem filhos, à sua janela,

Onde a geada desenha a floresta na vidraça,

Ela te encontra nessa simetria,

E imagina-se Tua mãe, e se sente confortada.
Mestre, Mestre Poeta,

Mestre de nossos desejos silenciosos,

O coração do mundo treme com o palpitar de Teu coração,

Mas não se inflama com a Tua canção.

O mundo senta-se e escuta Tua voz em tranquilo deleite,

Mas não se levanta do seu assento

Para escalar as cristas de Teus montes.

O homem pode sonhar o Teu sonho,

Mas não despertará à Tua aurora,

Que é seu sonho maior.

Poderá ver com Tua visão,

Mas não arrastará seus pesados pés para o Teu trono;

Entretanto, muitos tem sido entronizados em Teu nome

E coroados de mitras com Teu poder,

E transformaram Tua visita de ouro

Em coroas para suas cabeças e cetros para suas mãos.
Mestre, Mestre da luz,

Cujo olho mora nos dedos tateantes do cego,

Ainda és desprezado e motejado,

Como um homem demasiado fraco e inseguro para ser Deus,

E um Deus demasiado humano para atrair adoração.

Suas missas e seus hinos,

Seus sacramentos e seus rosários são para os seus Eus aprisionados.

Tu és seu Eu ainda distante, seu grito ao longe, e sua paixão.
Mas, Mestre, coração Altíssimo,

Cavaleiro de nosso sonho mais belo,

Ainda teces o dia presente

E nem os arcos nem as lanças deterão Teus passos;

Caminhas através de todas as nossas flechas.

Sorris do alto para nós,

E embora sejas o mais jovem de todos nós,

Servis de pai a todos nós.

Poeta, Cantor, Grande Coração.

Que nosso Deus abençoe Teu nome,

E o ventre que Te conteve e os seios que Te aleitaram.

E que Deus perdoe a todos nós.

Gibran, Kalil Gibran


As figuras foram retiradas do site de busca do google, com um agradecimento especial as belíssimas pinturas de Erna Y.

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